Vamos acompanhar com cuidado esta iniciativa, afinal, acidentes de
trânsito são eventos complexos, geram conflitos interpessoais,
discussões e agressões, obstrução na via e outros desdobramentos, que
sem a expectativa da presença da polícia, os motoristas mais agressivos e
espertos, especialmente aqueles alcoolizados, gente sem CNH, com a
carteira vencida, ou os que foram culpados e não querem assumir os
prejuízos dos outros, simplesmente poderão sair do local sem obrigação
de prestar qualquer informação. Além disso ninguém garante que os
motoristas e veículos envolvidos sejam corretamente identificados, ou
mesmo que as datas e a dinâmica descritas do sinistro não sejam inovadas
com o objetivo de praticar fraude e construir álibis.
Usar a tecnologia para otimizar o serviço público é muito
importante, mas dispensar a presença do estado no ambiente complexo do
trânsito, no momento crítico e tenso de um acidente de trânsito, quando
as pessoas precisam da ajuda imparcial e firme de um agente público, ou
pelo menos a expectativa desta intervenção para coibir os
mal-intencionados, poderá trazer consequências negativas para os
cidadãos, especialmente para aqueles mais conscientes de seus direitos e
deveres enquanto cidadãos.
É fato que o efetivo de nossas polícias está aquém das demandas de
uma sociedade dinâmica, complexa e violenta como a nossa, mas transferir
certos procedimentos típicos da administração pública para os próprios
envolvidos sob estresse e despreparados em meio à confusão de um
acidente, merecerá um acompanhamento cotidiano dos problemas e
reclamações dos usuários, assim como uma avaliação estatística dos
resultados. De qualquer forma, vamos torcer para dar certo.